

Se a arquitetura, as roupas, os estilos artísticos, as transformações políticas e tecnológicas, cientificas, e até mesmo a gastronomia são partes determinantes da identidade de um período ou época passada, o mesmo poderia ser dito dos odores: se fosse possível reproduzir hoje os cheiros do passado, nós poderíamos identificar também por nossas narinas como era, por exemplo, a Europa do século XVI. Pois como se saído das páginas da mais fina ficção científica diretamente para a vida real, é exatamente isso que o projeto ODEUROPA pretende realizar: utilizando inteligência artificial, mapear e recriar os aromas que flutuavam pelos ares e eram sentidos nas ruas e cidades da Europa no passado até o início do século XX.
O projeto reúne cientistas, especialistas em inteligência artificial, mas também historiadores e perfumistas reunindo esforços para não só identificar como também recriar, catalogar, arquivar e mesmo expor ao público os cheiros do passado europeu nos arredores do século XVI para cá. A ideia, portanto, é criar uma espécie de arqueologia e também um museu dos odores, como uma parte significativa da história que jamais pôde ser estudada.
Para tal, a equipe irá trabalhar com obras de arte, pinturas e livros do passado como base da pesquisa, nas quais os odores serão identificados para que possam ser reproduzidos. Alimentos, temperos, fumo, hábitos higiênicos (ou a falta deles), mercados, tudo é parte dessa imensa biblioteca de cheiros do passado, como parte do que pode ser entendido como o “cheiro da história”.
Segundo Peter Bell, professor de humanidades digitais na Universidade Alemã de Erlangen-Nuremberg e um dos envolvidos no projeto, a ideia é que os computadores sejam capazes de “enxergar” os cheiros. “Nosso objetivo é desenvolver um ‘olfato informático’ capaz de rastrear cheiros e experiências olfativas”, afirmou.
Após tal levantamento, entrarão em cena os químicos e perfumistas, para reproduzirem as fragrâncias, que chegarão aos museus em 2021 como uma parte tão importante quando esquecida da história até então. “A colonização, a urbanização, a industrialização, o nacionalismo, a comercialização, quase todos os processos históricos importantes influenciaram o que cheiramos”, afirmou William Tullett, historiador da Universidade Anglia Ruskin em Cambridge e membro da ODEUROPA.
A ideia é que em seguida o arquivo seja armazenado e passe a oferecer online a primeira enciclopédia histórica de odores do mundo, com informações sensórias e olfativas completamente novas a respeito de um passado tão estudado sob outras lentes.
O valor da iniciativa é evidente, mas na internet a notícia provocou as mais engraçadas reações, lembrando que o fato de um odor ser parte da história não quer dizer que tal cheiro seja bom – e que, se depender do que sugerem os livros e relatos sobre o passado europeu, a experiência de tal museu poderá ser um tanto difícil às narinas mais sensíveis.
Fonte: Põe na roda