O Brasil começa o ano de 2021 ainda sem uma vacina contra Covid-19 aprovada para ser aplicada na população. Nas últimas semanas de dezembro, depois que o imunizante começou a ser administrado em diversos países, a pressão para que a campanha de vacinação contra o coronavírus seja iniciada aumentou consideravelmente.
Neste momento, o maior impasse é o regulatório. Apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter simplificado as regras para permitir o uso emergencial de vacinas, as farmacêuticas ainda não formalizaram pedidos de autorização ao órgão regulador.
Até aqui, os desenvolvedores das fórmulas de Oxford/AstraZeneca e da Pfizer/BioNTech são os únicos que têm condições de pedir a autorização para o uso emergencial – que, de acordo com a Anvisa, será concedida em até dez dias a partir do pedido. No entanto, os laboratórios não cravaram se adotarão a estratégia e, muito menos, divulgaram data para fazê-lo.
Sem contrato
A vacina Pfizer/BioNTech foi a primeira no mundo a obter autorização em caráter de urgência e já está sendo administrada em pelos 32 países. A empresa, entretanto, ainda não tem contrato de fornecimento de vacinas para o governo brasileiro e, recentemente, criticou as exigências da Anvisa. O problema teria sido superado em uma reunião na quinta-feira (31/12).
Para os especialistas, os erros cometidos durante o processo de negociação de vacinas foram muitos e estão se refletindo no impasse atual. “O Brasil perdeu a oportunidade de ser um líder regional ao concentrar suas apostas na vacina de Oxford e abrir mão de desenvolver um imunizante nacional”, comenta o diretor-executivo do Instituto Questão de Ciência, Paulo Almeida.
De acordo com ele, o país deveria ter levantado as iniciativas mais promissoras do mundo e ter fechado acordos prévios como fizeram os países desenvolvidos. Também poderia ter apoiado iniciativas nacionais de desenvolvimento de imunizantes contra a Covid-19 porque tem capacidade científica acumulada.
“O Programa Nacional de Imunizações (PNI) sempre foi uma referência mundial, o que nos dava vantagens em relação aos outros países para a negociação com os laboratórios. O atraso do governo brasileiro nos deixou no fim da fila”, lamenta Almeida.
Condições excepcionais
Ex-diretor da Anvisa, o sanitarista Claudio Maierovitch, lembra que, no contexto de uma pandemia, onde todos os países estão buscando pelos mesmos produtos, leva vantagem aqueles que se anteciparem e facilitarem as negociações, o que não tem ocorrido no Brasil.
“Os trâmites para a aquisição de vacinas deveriam ter sido excepcionalizados durante a emergência mundial. Os países que já estão vacinando apostaram nos imunizantes ainda na fase de produção porque não havia dúvidas de que eles seriam necessários e os grandes laboratórios fariam as entregas”, pondera.
Ao menos 36 países já começaram a aplicar vacinas contra Covid-19 em suas populações, de acordo com a organização não-governamental Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford, que realiza levantamento a partir de informações oficiais dos órgãos de saúde. Até sexta-feira (1/1), 9,9 milhões de pessoas tinham recebido a primeira dose de imunizantes contra o coronavírus.
Fonte: Metrópoles