Os vestidos típicos de empregadas domésticas francesas são a nova mania do TikTok. No entanto, são os garotos que estão dando o que falar com essa nova tendência, batizada de MaidTok. Se o aplicativo de vídeos curtos foi um refúgio para você durante o período de isolamento social, algum vídeo com esta tag acabou aparecendo no seu feed nos últimos três meses, provavelmente. Mas a brincadeira, por mais despretensiosa que possa parecer, divide opiniões. Alguns consideram “transgressor” ver rapazes, especialmente os heterossexuais, usando o traje. Para outros, a conotação fetichista reforça a cultura machista e desrespeita a comunidade queer.
Vem comigo saber o por quê!
Um dos casais que entraram na onda da “microtendência” do aplicativo é a dupla Maddy Belle e Jackson Odoherty, que comentou sobre o assunto em entrevista ao site da revista i-D. Juntos, os dois acumulam mais de 5 milhões de seguidores no TikTok. Um dia, Maddy viu um vídeo com uma moça vestida de doméstica, com o namorado deitado no colo, e resolveu fazer o inverso: propôs que Jackson usasse o uniforme. Como resultado, o post viralizou.
Na rede social de vídeos curtos, o MaidTok parece ser uma espécie de primo da tendência FemBoy, que mostra rapazes usando saias e vestidos e peças tradicionalmente consideradas femininas, com a tag #FemBoyFriday. Em outubro, o Halloween deu uma impulsionada nisso, como aponta artigo do site Refinery29. O Google Trends revela que as pesquisas por “maid outfit” foram maiores entre abril e novembro do que nos últimos cinco anos.
O MaidTok se diferencia do FemBoy por ser uma “brincadeira” com olhar fetichista por trás. É justamente aí que mora o problema, na visão de algumas pessoas. Nesse sentido, os vídeos do MaidTok funcionariam como “thirst traps“: um tipo de publicação em redes sociais com apelo sexual e objetivo de proporcionar paquera.
Desconstrução ou apropriação?
O/a tiktoker não binário(a) Caden acredita que não existe uma desconstrução do patriarcado ou da masculinidade tóxica quando homens heterossexuais fazem sucesso por se vestirem de mulher da forma que o MaidTok propõe. “Sexualizar não é o mesmo que normalizar. Quando as mulheres, pessoas não binárias e homens queer usam saias, é porque gostam de usar saias, eles existem de saias. Sim, às vezes eles parecem gostosos ou sexualizam, mas não o tempo todo. A única vez que homens cis heterossexuais usam saias neste maldito aplicativo é para parecerem atraentes e ganharem influência”, argumentou ao i-D.
A visão do ator e escritor não binário Egonano vai no mesmo sentido de Caden. Para ele/ela, chega a ser uma apropriação de elementos da cultura feminina. “Homens afeminados e pessoas que não se conformam com o gênero foram pioneiros e morreram por séculos apenas por causa de sua expressão e apresentação de gênero, então, dizer que os meninos brancos cis heterossexuais iniciaram uma tendência que desafia as normas de gênero é completamente desrespeitosa à comunidade queer”, apontou Egonano.
O patinador artístico Austin, por sua vez, tem uma visão diferente. Ele já publicou um vídeo patinando com a fantasia e reconhece que o uniforme de empregada foi muito sexualizado no passado. No entanto, acredita que a tendência tem a ver com autoconfiança e estar bem com o próprio corpo. “Eu acho que é bom que muitas pessoas possam ficar expostas ao ver caras com roupas mais ‘femininas’. Não tenho problemas com a minha masculinidade e não vejo problemas em poder sair e me divertir”.
Reinvenção na moda masculina
No fim do último ano, uma edição da revista Vogue com o cantor Harry Styles usando vestido deu o que falar e arrancou críticas de personalidades direitistas dos Estados Unidos. Diferentemente do MaidTok, que alguns enxergam como tentativa de homens heterossexuais para atrair paquera, Harry tem a pegada andrógina como um dos traços principais de seu estilo.
O artista, junto a nomes como Timothée Chalamet, Jaden Smith e outros do show business, tem sinalizado uma reinvenção da moda masculina com cores, texturas, acessórios e peças mais ousadas. Essa parece ser uma evolução construtiva do segmento menswear.
Colaborou Hebert Madeira
Fonte: Metrópoles