Estudo mostra que saúde mental é uma das preocupações dos brasileiros durante a pandemia do novo coronavírus. Pesquisa realizada pela SA365 mostra grande aumento na busca pela internet sobre ansiedade e depressão. A Health+Life, porém, analisou que o suicídio é tratado no Brasil em casos um pouco mais “personalistas”, mas não como pauta de saúde pública.
Entre as pesquisas feitas pelos internautas, sintomas e diagnósticos on-line lideram as buscas. A hashtag #saúdemental foi usada mais 4,4 milhões de vezes em redes sociais brasileiras e portuguesas, já #ansiedade e #depressao apareceram 2,66 milhões e 1,08 milhão de vezes em publicações, respectivamente.
A análise dos pesquisadores indica que a pandemia da covid-19 deixou as pessoas mais ansiosas. Dados divulgados durante webinar, nesta quinta-feira (18/2), mostraram um aumento de 246 mil pontos, em 2019, para 340 mil pontos, entre abril e julho de 2020, na escala Google, em pesquisas relacionadas à ansiedade.
Para entender o que estava passando, o internauta recorria à internet buscando identificar a doença e, também, métodos para “aliviar os sintomas” em meio à quarentena. Manifestações parecidas com os sintomas da covid-19, como falta de ar e até pressão alta, podem ter influenciado no resultado.
Outro dado relevante apontado no estudo mostra que, no período analisado, os termos relacionados à “depressão” tiveram uma queda na busca. Foram 280 mil pontos marcados em 2020, ante 370 mil em 2019. Para os pesquisadores, isso é um indicativo de que, por mais ansiosas que estivessem, as pessoas “deixaram de procurar ajuda médica da forma adequada por conta do foco de atenção na pandemia”.
Dentro do esperado
Na avaliação do psiquiatra Alisson Marques, quadros de ansiedade pós-pandemia são comuns. “Historicamente, os aumentos nas taxas de doenças mentais graves geralmente ocorreram após as crises nacionais. Uma resposta natural de sentimentos de ansiedade episódica, medo e desânimo podem ser esperados de maneira situacional nesse contexto, sem que se configurem doenças. Entretanto, com o processo arrastado da pandemia, tem-se gerado impactos adoecedores”, explica o especialista.
A pesquisa foi realizada pela divisão Health+Life da agência SA365 e se baseou na metodologia netnográfica para chegar aos resultados. Esse modelo utiliza informações encontradas nas redes sociais e na internet, como Facebook, Twitter, Instagram e Google Trends, para entender a popularidade desses assuntos entre os internautas.
No Brasil, o levantamento indicou que as pesquisas realizadas na internet foram influenciadas por veículos de comunicação e, principalmente, influenciadores digitais. “Entendemos como relevante a atuação da indústria e de influenciadores para facilitar o diagnóstico e encaminhar as pessoas para o cuidado de um médico”, diz Renata Assumpção, gerente da divisão Health+Life.
Setembro amarelo
O tema é anualmente abordado na campanha do Setembro Amarelo, quando a discussão sobre a saúde mental é colocada em prática entre a comunidade internáutica e pelo SUS (Sistema Único de Saúde) durante o nono mês de cada ano.
Marques ainda alerta sobre os cuidados com a saúde mental, inclusive para aqueles que já tinham algum transtorno pré-covid-19. “As alterações emocionais causadas pela pandemia podem tornar os indivíduos em adoecimento mais vulneráveis ao comportamento suicida. Diversas pessoas que já estavam em processo de recuperação de episódios depressivos, tiveram regressão no tratamento”, avalia o médico.
Durante o webinar, os pesquisadores explicaram que em um período pré-epidêmico, as discussões relacionadas à saúde mental eram ‘romantizadas’, atrelados à religião; e que os textos divulgados nas mídias sociais não possuíam informações sobre a doença, mas falavam muito de emoção.
O cenário mudou durante a pandemia. No entanto, apesar de começar a divulgar algumas informações sobre doenças mentais, a cobertura da imprensa brasileira se concentrou mais nas histórias e relatos das celebridades em questão, sem relatar sintomas e formas de procurar acompanhamento médico, detalhou o estudo.
Fonte: Correio Braziliense