A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu a investigação sobre a morte da bebê Yasmim Sophia Moura Boudoux, de apenas 1 ano, em Samambaia. A mãe e o padrasto da criança foram indiciados por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe. Os investigadores garantem não terem dúvidas quanto ao envolvimento do casal. “A hipótese definitiva é essa”, afirma o delegado-adjunto da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), Rodrigo Carbone.
Yasmim morreu em 13 de fevereiro. Inicialmente, a mãe, Cecília Boudox, 23 anos, e o padrasto Luís Lourenço, 21, informaram que a menina faleceu após cair do berço. No entanto, o laudo cadavérico apontou diversas lesões no corpo da criança, que seriam incompatíveis com uma queda. “A dinâmica narrada por eles não coincidia com os laudos da polícia. Os elementos colhidos na investigação apontavam o oposto do que eles falavam”, diz Carbone.
A polícia também pediu a conversão da prisão do casal de temporária para preventiva. Cecília e Luís estavam juntos havia 1 ano, e, segundo relatos colhidos durante a investigação, apresentavam um perfil agressivo. A mãe tem outros dois filhos, de 3 e 5 anos. A polícia apura se eles também foram vítimas de maus-tratos. “Foram encaminhadas ao Conselho Tutelar e, agora, colocadas sob a guarda provisória de um responsável até que tudo se defina. Continuamos apurando uma eventual agressão que possa ter vitimado essas duas crianças. Isso não é descartado”, afirma o delegado.
Frieza
Além dos laudos, o comportamento do casal chamou a atenção. A postura fria e, aparentemente, sem arrependimentos acendeu um alerta durante as investigações. “Frieza pura. Indiferença, e não mostravam comoção. Mesmo que não tenham confessado, não mostraram que estavam consternados ou qualquer tipo de abalo. Estavam de uma forma estranhamente tranquila”, diz o delegado Rodrigo Carbone.
Segundo o laudo necroscópico, Yasmim possuía um histórico de agressões, inclusive, anteriores ao dia da morte. “Lesões recentes e antigas na criança. A criança apresentava infecções na região genital decorrente de mal cuidado”, diz Carbone. A investigação também descobriu que Yasmim já tinha dado entrada em um hospital. “A médica orientou que fossem adotados alguns procedimentos médicos, e a mãe fugiu”, conta.
O caso
Yasmim Sophia morreu a três dias de completar o aniversário de 1 ano. O Correio obteve acesso às informações presentes no laudo. A bebê apresentava cinco marcas de hematomas no pescoço, supostamente causadas por dedos e na parte frontal da coxa; lesão no olho direito; fraturas nas costas, no crânio e no ombro; e feridas na região das nádegas, com resquícios de fezes.
Em depoimento à polícia, o padrasto afirmou que Yasmim morreu após o outro filho da mulher, de 2 anos, derrubar a criança acidentalmente ao tentar tirá-la do berço. A mãe não estava em casa e a menina foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas já estava sem vida. A versão de acidente não convenceu os policiais. Em depoimento, os dois negaram as acusações e alegaram que nunca bateram ou agrediram a bebê.
Segundo a advogada criminalista Hanna Gomes, o crime possui várias qualificadoras. “Crime de maus-tratos com resultado morte e o de homicídio contra crianças, com a causa de aumento de pena genérica, em razão da idade da vítima (criança menor de 13 anos)”, explica. “Ainda é possível a incidência de diversas qualificadoras tais como o meio que impossibilitou a defesa da vítima, motivo fútil ou torpe a depender das apurações”, diz.
Apesar de não ser considerado crime hediondo, a pena pode ser aumentada por conta do vínculo com a vítima. “Quando os genitores são os próprios autores, a valoração negativa é ainda pior. E, na fase de dosimetria, o magistrado pode considerar o parentesco para fins de majoração da pena”, afirma Gomes.
“Mesmo que não tenham confessado, não mostraram
que estavam consternados ou qualquer tipo de abalo.
Estavam de uma forma estranhamente tranquila”
Rodrigo Carbone,
delegado-adjunto da 26ª DP
Caso semelhante
O caso Yasmim assemelha-se ao do menino Henry Borel, de 4 anos, que morreu em 8 de março, no Rio de Janeiro. Em depoimento à polícia, a mãe de Henry, Monique Medeiros, relatou que estava na sala assistindo TV com o namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Junior, e a criança estava deitada na cama da mãe. Monique contou que Dr. Jairinho dormiu por causa dos remédios. Por volta de 3h30, ela levantou e acordou o namorado. O médico foi ao banheiro e, ao voltar para o quarto, a mãe encontrou Henry caído no chão. A professora disse que o filho poderia ter se desequilibrado ou tropeçado na poltrona e caído. No entanto, o laudo cadavérico apontou 23 lesões na criança, e que ela não morreu vítima de acidente. Após a conclusão do inquérito, Monique e Jairo foram indiciados pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e tortura contra a criança.
Fonte: Correio Braziliense