Pelas redes sociais, a irmã do estudante orientado a cortar o cabelo em um escola militarizada no Distrito Federal comentou o episódio revelado pelo Metrópoles. Segundo Rosa Carvalho, 25 anos, a família não é contra as regras do Ensino Fundamental 1, no Núcleo Bandeirante, mas alegou que a norma em questão não foi informada previamente, apresentando-se de forma preconceituosa.“A família não é contra a escola. A gente não é contra as regras. O problema é: se era uma regra para ser seguida, por que ela não foi exposta antes? Por que ela não foi cobrada antes? Certo? Se é uma regra, a criança só entra na escola se estiver seguindo aquela regra. Não foi assim”, pontua.“A forma como [a norma] foi exposta – diretamente para o menino, falando que ele está se camuflando entre as meninas – a gente achou errada, a gente achou preconceituosa. Porque, se fosse uma regra, ela estaria sendo seguida, certo? E ela não foi nem exposta para a família”, ressalta Rosa.De acordo com a jovem, a escola não orientou previamente o aluno sobre a necessidade do corte de cabelo. “Quando a gente o matriculou, foi informado de algumas condutas que a gente deveria seguir, a maioria delas ligada ao uniforme. A gente nunca recebeu nada em relação ao cabelo dele”, enfatiza.No começo do ano letivo do ano passado, a família recebeu a orientação de que o cabelo do estudante deveria ficar preso em um coque. O garoto seguiu a diretriz e sempre compareceu à escola com o cabelo amarrado. “Depois do ocorrido, o meu irmão ficou muito mal”, conta.Para a família, a escola teve todas as oportunidades possíveis para esclarecer as regras antes do episódio. No vídeo, Rosa comentou que a família observou preconceito, mas, neste caso, não seria preconceito racial. “Eu não vi esse preconceito racial”, destaca.O caso está em avaliação no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF) enviou pedido de investigação do caso. O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (Ned) do MPDFT avalia qual será o posicionamento do órgão de controle.Entenda o caso
Familiares do adolescente negro de 12 anos foram surpreendidos, na última semana, com a orientação de um sargento da escola militarizada Centro de Ensino Fundamental 1, conhecida como Sapão, no Núcleo Bandeirante.Na ocasião, um militar do Corpo de Bombeiros teria dito que o jovem deveria cortar o cabelo. O sargento da corporação fez um comentário preconceituoso, dizendo que ele estava “se camuflando entre as meninas”.Tudo começou quando o aluno buscou auxílio clínico no colégio. “O olho dele estava doendo, lacrimejando, e ele foi ver o que estava acontecendo. O sargento viu e perguntou: ‘Por que você está com o cabelo grande desse jeito?’”, conta Rosa Carvalho.O militar questionou se era alguma promessa ou algo similar. Ao receber a negativa do garoto, o servidor teria dito: “Você está se camuflando no meio das meninas”. Nesse instante, o estudante ficou sem reação. “Meu irmão não soube responder”, revela Rosa.O militar ligou para a família informando que o menino teria de cortar o cabelo para ficar “enquadrado no regulamento da instituição”. No entanto, a fala pegou a família de surpresa, pois o garoto estuda no local há quase dois anos, sempre usou o cabelo amarrado ou em coque e nunca havia sido abordado nesse sentido.“O sargento disse que o meu irmão estava indo para a fila das meninas, algo que não é verdade. Ele ficou muito triste, chegou em casa e não queria falar com ninguém. Da forma que foi colocado, acabou abalando muito o meu irmão, que agora está querendo cortar o cabelo.”O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Educação e com o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF). O GDF informou “que não vai comentar o caso”.Por meio de nota, o CBMDF disse que o “cabelo estava fora do padrão estabelecido nas escolas cívico-militares” e que o sargento orientou o jovem de “forma didática” para que ele se adequasse ao corte exigido pelo “regulamento vigente desde o ano de 2019”.Regras sobre corte de cabelo
No fim de 2019, a Secretaria de Educação flexibilizou as regras sobre corte de cabelo em escolas militarizadas. À época, a pasta também pretendia suavizar as normas para acessórios e tatuagens. De acordo com o secretário em exercício no período, João Pedro Ferraz, a decisão tinha dois motivos: respeitar a identidade do aluno e avançar com a popularização da gestão compartilhada com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.“Flexibilizamos as regras para o corte de cabelo. Se o aluno estiver com cabelo grande e tiver de participar de um evento com boina, por exemplo, basta amarrar o cabelo, da mesma forma como as mulheres fazem. Acabou a atividade, solta o cabelo e vai ser feliz”, comentou Ferraz na ocasião.Leia a nota dos bombeiros na íntegra:
“Ao observar o jovem em questão com o cabelo fora do padrão estabelecido nas escolas cívico-militares, o referido monitor orientou, de forma didática, que o mesmo se adequasse ao corte padrão estabelecido em regulamento vigente desde o ano de 2019.A conversa instrutiva registrada em ata escolar se deu primeiramente com o jovem e após agendamento com seu responsável legal, no caso o genitor do aluno.Lembramos que todos os alunos e alunas matriculados em escolas compartilhadas estão sujeitas ao regulamento e normas de tal sistema e que de forma alguma houve represália ou orientação não didática proferida ao adolescente.Vale ressaltar que o CBMDF não coaduna com qualquer prática discriminatória por parte de seus militares e destaca, ainda, a importância e relevância das escolas no sistema cívico-militar em funcionamento no Distrito Federal, e que o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal está em completo engajamento nesse processo de inovação no sistema de ensino de Brasília.”Fonte: Metrópoles