Os brasileiros estão, cada vez mais, apostando em tratamentos à base de plantas medicinais e remédios fitoterápicos para combater infecções respiratórias, dores musculares, doenças de pele e ansiedade. Muitos desconhecem, mas a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) tem quatro hortos medicinais em toda a rede pública. Eles foram criados com o objetivo de cultivar plantas medicinais que serão utilizadas em tratamentos de saúde, visando agregar fitoterápicos para complementar o tratamento de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os quatro hortos medicinais funcionam na Unidade Básica de Saúde (UBS) nº 1 do Lago Norte, na Casa de Parto, em São Sebastião, na Farmácia Viva do Riacho Fundo I e na Farmácia Viva do Centro de Referência em Práticas Integrativas (Cerpis), em Planaltina.
Em 2021, por exemplo, a produção de fitoterápicos na Farmácia Viva do Riacho Fundo I mais que dobrou, aumentou 159%, de janeiro a novembro, em relação à produção de 2020 nesse mesmo período. No entanto, a produção ainda é muito pequena para atender toda a população do DF. Em três, dos quatro hortos, é feita a entrega da planta fresca, mediante prescrição.
Já a produção de medicamentos fitoterápicos é feita somente nas Farmácias Vivas do Riacho Fundo I, que distribui para 25 unidades básicas de saúde, e a do Cerpis de Planaltina, que distribui dentro da Região de Saúde Norte que abrangem a região administrativa e Sobradinho.
Saiba quais são as unidades básicas de saúde (UBSs) dispensadoras:
O médico de família e comunidade e Referência Técnica Distrital (RTD) de Fitoterapia, Marcos Trajano, explica com amor o projeto de hortos medicinais da UBS 1 do Lago Norte.
“O projeto da UBS 1 começou em 2018. A ideia foi fazer a implantação de uma atividade coletiva e comunitária dentro do espaço externo da unidade e que fizesse com que as pessoas tivessem algo para se encontrar em torno do cultivo de plantas medicinais. Que fosse uma oferta que tivesse não só o benefício mas também um protagonismo das pessoas”, detalha.
“Chamamos de agrofloresta medicinal. O cultivo biodinâmico se relaciona com a vizinhança, não utilizando agentes químicos sintéticos. Usamos processos de melhoria da terra e isso se configura numa prática de promoção da saúde. É um espaço de segurança que oferta plantas medicinais como recursos terapêuticos saudáveis para melhoria da qualidade de vida da população”, acrescenta Trajano.
Na UBS 1 do Lago Norte são cultivadas mais de 80 espécies de plantas medicinais diferentes. Além de promover serviços ambientais, a atividade amplia o conjunto de cultivos no DF promovendo cultura de paz por meio da cooperação e integração entre servidores, gestores e usuários do SUS, ampliando o escopo de ofertas da Secretaria de Saúde.
O cultivo biodinâmico de plantas medicinais em agroflorestas é fruto do desenvolvimento tecnológico entre diversos setores da SES-DF, acompanhado da participação de entidades da sociedade civil, fundações públicas federais, entidades tecnológicas da capital e universidades de outras unidades federativas.
De acordo com Trajano, os hortos medicinais da UBS 1 do Lago Norte, do Cerpis de Planaltina e da Casa de Parto, em São Sebastião, oferecem as plantas medicinais cultivadas de forma fresca para os pacientes, através de prescrições de profissionais habilitados.
Ele esclarece que o projeto busca ser mais um produtor de plantas medicinais para reforçar a oferta dentro da capital da República.
“Nós não queríamos substituir as farmácias vivas e sim, incrementar o processo produtivo, incluindo as pessoas. Sou médico da unidade e posso indicar uma planta para tratamento de determinadas doenças como por exemplo uma planta para fazer um chá no controle da tosse e dor de garganta, sintomas da Covid-19. Na Casa de Parto, por exemplo, cultivamos plantas medicinais que auxiliam no processo de recuperação no pós-parto”, exemplifica o médico.
Produção e oferta
Na produção dos fitoterápicos, os princípios ativos são extraídos das raízes, sementes e folhas. As unidades da Farmácia Viva seguem os protocolos estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e da resolução n° 886 de 20 de abril de 2010 onde diz que, as farmácias vivas deverão realizar as etapas de cultivo, coleta, processamento e armazenamento de plantas medicinais. Oriundos de horta ou horto oficial ou comunitário a serem dispensados no âmbito do SUS, não sendo permitida sua comercialização.
De acordo com a pasta, para ter acesso é necessário passar por um profissional de saúde habilitado na atenção básica (UBSs), e, em posse de prescrição, retirar gratuitamente em qualquer das farmácias cadastradas.
A Farmácia Viva do Riacho Fundo I tem a capacidade de produção anual de 30 mil medicamentos. Hoje, são utilizadas oito plantas medicinais para a produção de fitoterápicos e 13 medicamentos estão cadastrados na Relação de Medicamentos (Reme). Veja aqui.
A Farmácia Viva do Cerpis, em Planaltina, produz o xarope e a tintura de guaco – que pode ser utilizado por pacientes com diabetes por não conter açúcar em sua formulação, que serve como um expectorante -, a tintura de boldo, que serve para a má digestão, e a tintura de funcho que é indicado como antiespasmódico (contração involuntária dos músculos), entre outros.
Além de cultivar, colher, manipular e distribuir os fitoterápicos, a unidade entrega plantas frescas, secas e funciona com a porta aberta para a demanda espontânea da comunidade há 40 anos.
O cultivo biodinâmico de plantas medicinais em agroflorestas é o embrião do Programa Distrital de Plantas Medicinais, que visa expandir os hortos medicinais em todas as sete regiões de saúde, com a pretensão de implantar 15 novos hortos até o fim de 2022. Atualmente, 39 unidades de saúde já entraram com o processo para a implantação dos hortos medicinais. Até 2024 a intenção é ter 40 hortos medicinais em toda a rede.
Fonte: Metrópoles