Os emocionantes e profundos quadrinhos do desenhista brasileiro Ademar Vieira vêm ganhando grande popularidade por toda a internet, com um detalhe fundamental que amplia o talento para o traço e para o desenvolvimento de histórias do artista amazonense: suas tiras não utilizam uma palavra sequer. Revelando dilemas e apontando o dedo para aspectos profundos da realidade atual, Ademar desdobra suas narrativas de forma tocante e reflexiva, mas sem precisar recorrer ao texto e à imposição das falas, permitindo que o leitor navegue pelos sentimentos de cada quadrinho, preenchendo com sua própria voz a silenciosa sugestão ofertada por cada sequência.
“Em janeiro de 2020, eu passei por uma fase muito ruim da minha vida, e creio que são nesses momentos que a arte se faz necessária. Sem perceber, eu quis sublimar um sentimento negativo, transformando-o em algo bom: arte”, ele conta, sobre o processo de feitura da tirinha “Vazio”, a primeira de sua lavra, e ilustrando a força emocional e real que percorre as narrativas que desenha. “Desde então, não parei mais. As tiras me ajudaram a superar a fase difícil, e espero que elas possam ajudar você também de alguma forma”, ele convida, em texto de divulgação do livro “Sem Palavras”, que lançou recentemente.
Temas como a guerra, os refugiados, a economia, a fome e outros tantos males do mundo atravessam, literalmente ou em pano de fundo, suas criações – como no caso da história intitulada “Pesadelo”, que foi inteiramente republicada no site Bored Panda – e que também retrata o sentimento sem usar qualquer fala ou texto. “Hoje, o mundo está testemunhando o que parece ser a volta de um pesadelo do passado, mas que para muita gente de países pobres é uma realidade bastante atual. Para as vítimas da guerra, não há lado certo ou errado, não há nada que justifique a barbárie, e é por isso que a tira se chama ‘Pesadelo’”, comentou o artista. Muitas de suas histórias podem ser “assistidas” em seu perfil no Instagram.
Além de quadrinista e ilustrador, Ademar também é roteirista e jornalista, formado pela Universidade Federal do Amazonas, e revela que suas primeiras histórias não eram feitas sem palavras. “Inicialmente eu colocava falas nos personagens, mas quando fiz uma tira sem palavras, pessoas de outros países começaram a compartilhar, então decidi fazer sempre sem texto”, explicou. Questões ambientais, econômicas e até o grande Padre Julio Lancellotti já entraram em seus quadrinhos, que denunciam, com força e doçura, as injustiças do mundo – e que já foram por cinco vezes temas de artigos no Bored Panda, como em tantos outros sites internacionais.
Fonte: Hypeness