Os medicamentos existentes para a epilepsia não são suficientes para cerca de um terço dos pacientes. Nesses casos, a remoção dos tecidos que originaram as crises é uma potencial via de tratamento. Só que, atualmente, gastam-se semanas em um exame para avaliar as atividades elétricas do cérebro para, então, dar início ao procedimento cirúrgico. Uma equipe da Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos, criou uma técnica que pode reduzir o tempo de análise para poucas horas.
“Usamos aprendizado de máquina e análise de rede para analisar uma gravação de estado de repouso de 10 minutos para prever onde a convulsão ocorreria. Embora esse método ainda seja invasivo, está em um grau significativamente menor, porque reduzimos a linha do tempo de gravação de vários dias ou até semanas para 10 minutos”, compara Bin He, líder do estudo, apresentado na revista Advanced Science.
Hoje, antes de qualquer remoção cirúrgica de tecidos, os médicos, geralmente, fazem furos no crânio do paciente para colocar eletrodos de gravação. Esses dispositivos registram a atividade elétrica no cérebro ao longo de dias ou semanas e informam onde as convulsões estão ocorrendo. Durante o procedimento, é preciso que o paciente permaneça no hospital.
A técnica de análise criada por Bin He e colegas pode identificar as mesmas regiões cerebrais e prever o resultado de uma convulsão de um paciente usando apenas 10 minutos de gravações. Para isso, extrai o fluxo de informações em todos os eletrodos de gravação e faz uma previsão com base nos diferentes níveis de atividade cerebral.
Os resultados dos testes foram promissores. “Em um grupo de 27 pacientes, nossa precisão em localizar as regiões cerebrais do início das convulsões foi de 88%, o que é um resultado fascinante”, enfatiza o também professor de engenharia biomédica. No mesmo grupo de pacientes, a precisão de prever o resultado das crises, ou a possibilidade de ficar livre de crises após a cirurgia, foi de 92%. “Eventualmente, esse tipo de dado pode orientar os pacientes para a cirurgia ou para longe dela. E essa é uma informação que não está prontamente disponível”, reforça Bin He.
A equipe dá continuidade à pesquisa buscando chegar a abordagens não invasivas ou minimamente invasivas que tenham resultado semelhante. “Essa pesquisa não apenas fornecerá informações sobre a probabilidade de sucesso cirúrgico para indivíduos com epilepsia e seus cuidadores, mas também nos ajudará a entender os mecanismos subjacentes das convulsões usando uma abordagem minimamente invasiva”, afirma Vicky Whittemore, do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame, uma parte dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
Fonte: Correio Braziliense