Vinicius Coimbra, ex-diretor da Rede Globo, que acabou ganhando destaque na mídia após ser acusado de racismo contra atores do elenco da novela “Nos Tempos do Imperador”, enfim rompeu o silêncio e resolveu falar detalhadamente sobre o caso que continua sendo investigado pelo Ministério Público. Em entrevista, o contratado da emissora dos Marinho admitiu seu erro e revelou que houve uma tentativa de acordo financeiro com os envolvidos, o acabou não ocorrendo.“Durante essa conversa, houve um pedido de reparação financeira, partindo deles, que estava além das minhas possibilidades. Dias depois, devolvemos uma contraproposta que julgamos proporcional à minha parcela de responsabilidade e condizente com a prática judicial brasileira no tema de dano moral. Tudo para tentar compor esse dano de relação, reconhecido por mim como existente e por eles como não-intencional. Nossa contraproposta não foi aceita, e há oito meses não temos mais contato”, iniciou Coimbra em conversa com a jornalista Cristina Padiglione, da Folha de São Paulo.Segundo as atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Dani Ornellas, o diretor chegou a dividir os camarins dos atores por cor de pele, ou seja, diferenciado os negros e os brancos. No entanto, de acordo com Vinicius, ele não foi o responsável por isso e tratou de se justificar: “A distribuição de camarins, definitivamente, não é atribuição do diretor artístico. Nem a ordem de caracterização na sala de maquiagem, no refeitório, a elaboração dos diversos protocolos de segurança e outros inúmeros procedimentos que envolvem a produção de uma novela”.“De qualquer forma, quando os artistas me trouxeram estas queixas, levei-as aos departamentos responsáveis. Especificamente sobre os camarins, o que me foi explicado na época era que o critério de distribuição se relacionava com o número de cenas que determinado artista gravava naquele dia, a dificuldade de locomoção dos figurinos e a proximidade da porta do estúdio. Sobre a política salarial da empresa, como diretor artístico, não tinha nenhum acesso”, continuou o ex-diretor do canal carioca.Coimbra afirmou ter provas de que fez o possível na tentativa de auxiliar os atores: “Criei um grupo com os artistas negros e a supervisora de texto intitulado Diálogos, um canal direto para que pudessem trazer mais rapidamente qualquer problema nos bastidores, ou sugestões ao texto, caso quisessem, sem nenhuma obrigação. Explico isso em mensagens no grupo. Naquele momento, tentei fazer o que estava ao meu alcance, tanto na esfera do que era minha responsabilidade quanto no que diz respeito a terceiros. Tenho inúmeras mensagens no grupo tentando conciliar e aliviar os desconfortos”.Porém, o diretor admitiu que não agiu corretamente ao criar um grupo destinado apenas ao elenco negro: “Tentei cuidar dos artistas também através da obra, para que todos fossem felizes com seus personagens. Mas hoje entendo que errei ao ter uma conversa somente com artistas negros e também ao criar um grupo com eles. O que para mim era um cuidado, para eles pode ter sido um incômodo. Pedi-lhes desculpas por isso durante a novela, algumas vezes”.Por fim, Vinicius Coimbra fez uma reflexão: “Todos nós, pessoas brancas, historicamente privilegiadas, podemos ser racistas em algum momento, mesmo sem perceber. São revisões que precisam ser feitas, de atitudes conscientes e inconscientes. Vivemos num sistema de privilégios herdado da época escravagista que favorece as pessoas brancas em prejuízo das pessoas negras há séculos. Se você se beneficia desse sistema, sem fazer nada para mudar, você está sendo racista”.Fonte: Em off