Santos — O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudinho Silva, acusou policiais militares que faziam uma abordagem em frente ao cemitério da Areia Branca, em Santos, na manhã desta quinta-feira (7/11), de tentarem intimidar familiares e vizinhos do menino de 4 anos morto em uma ação da PM, que estava sendo enterrado no local.
Ryan da Silva Andrade, baleado na noite da última terça-feira (5/11), foi enterrado por volta das 9h30. Na saída, as pessoas que estavam no velório se depararam com um grupo de policiais abordando um motociclista e foram questioná-los.
Segundo os PMs, o rapaz estava trafegando com uma moto sem placa. O alvo da abordagem, que não quis se identificar, disse ter sido agredido pelos policiais.
Nesse momento, teve início uma confusão, envolvendo o ouvidor das polícias, Claudinho Silva, a deputada estadual Paula Nunes (PSol) e representantes de movimentos sociais.
“Quem veio tumultuar aqui foi o senhor. Respeite a vida das pessoas. O senhor veio tumultuar. O senhor agrediu o motociclista e vem falar que eu vim tumultuar. Quem veio tumultuar foi o senhor”, afirmou o ouvidor a um dos policiais.
“Quem não está estarrecido com o que aconteceu no morro entre a noite de anteontem e ontem, quem não está estarrecido com a morte de uma criança de 4 anos não é gente”, acrescentou Claudinho.
Confrontados, os PMs passaram a filmar o grupo de pessoas que fazia os questionamentos. Horas antes, durante o cortejo fúnebre, viaturas da PM impediram a passagem de familiares e moradores do Morro do São Bento que acompanhavam o caixão com o corpo de Ryan.
“Maioridade penal de 3 anos”
Antes da confusão, o ouvidor Claudinho Silva concedeu uma entrevista coletiva em que criticou o posicionamento da Polícia Militar diante da morte do menino Ryan.
Nessa quarta-feira (6/11), o porta-voz da PM, coronel Emerson Massera, disse que os policiais envolvidos na ocorrência foram “vítimas” de criminosos e, citando os adolescentes baleados, defendeu a redução da maioridade penal.
“Morreu uma criança de 4 anos, e o porta-voz da polícia vem defender redução da maioridade penal”, disse Claudinho Silva. “Vai reduzir a quanto? 3 anos? Esse que morreu tinha 4 anos. Qual é o crime que ele estava cometendo? Essa criança estava com uma arma na mão? Estava atentando contra a vida e contra os policiais? Onde nós vamos chegar? Vão dizer que o Ryan era um grande líder de uma facção criminosa?”, questionou Claudinho.
“Aqui no estado de São Paulo virou política colocar polícia em velório de gente que morre nas mãos da polícia para intimidar as pessoas. Vocês acompanharam o cortejo, vocês viram o comportamento da polícia. Viatura do Choque, do Baep, tinha viatura do próprio batalhão”, complementou.
Enterro
O corpo do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi enterrado na manhã desta quinta-feira (7/11) no cemitério da Areia Branca.
Familiares e moradores da comunidade acompanharam o cortejo fúnebre, que saiu do velório na Santa Casa de Santos. No cemitério, o corpo foi recebido com fogos de artifício e balões brancos.
Ryan foi sepultado diante do choro inconformado de dezenas de pessoas. Até o coveiro responsável por fechar o túmulo chorou.
A mãe de Ryan, Beatriz da Silva Rosa, precisou ser levada em uma cadeira de rodas durante o cortejo e o funeral. Arrasada, a mulher, que teve o marido morto pela PM em fevereiro também no Morro do São Bento, não conseguia falar ou se manter de pé.
“Meu Deus do céu, meu filho foi embora”, dizia a mulher aos prantos enquanto o caixão com o corpo do filho era colocado em uma gaveta no cemitério.
Fonte: Metrópoles