São Paulo – A Justiça de São Paulo declarou nulo o ato administrativo que interrompeu os serviços de aborto legal no Hospital e Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo. Com isso, a Prefeitura de São Paulo terá que retomar os atendimentos na unidade. Ainda cabe recurso.
A decisão foi assinada, nesta quarta-feira (6/3) pela juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, em resposta a uma ação de três parlamentares do PSol – a deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi.
“O Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, que há mais de 3 décadas prestava o serviço com qualidade e sem limites para a idade gestacional, era uma referência na área e atendia mulheres em hipervulnerabilidade social, motivo pelo qual a interrupção do serviço configura ofensa ao princípio da proibição do retrocesso social, que impede a reversibilidade dos direitos fundamentais de caráter social, como é o caso da dignidade e da saúde das mulheres vítimas de abuso sexual”, afirma a magistrada.
A juíza alega que “nada impediria a implantação de outros atendimentos ginecológicos no Hospital Vila Nova Cachoeirinha sem que fosse suspensa a prestação do serviço de aborto legal”, respondendo ao argumento da Prefeitura de São Paulo de que o atendimento foi interrompido para dar lugar à cirurgias de endometriose no local.
A sentença diz ainda que o serviço de aborto legal “não foi implementado em outros hospitais municipais da forma como vinha sendo prestado”.
O atendimento aos casos de aborto a pacientes com mais de 22 semanas de gestação foi interrompido no Hospital Cachoeirinha em dezembro de 2023 por determinação da gestão Ricardo Nunes (MDB). Desde então, a Justiça já entrou com diversos pedidos para a retomada do procedimento, mas a prefeitura conseguiu uma liminar e manteve a suspensão.
O debate sobre o tema chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e respingou nas eleições municipais, com cobranças a Nunes durante a campanha.
O Metrópoles solicitou posicionamento da prefeitura da capital em relação à determinação judicial que anulou a interrupção do aborto legal na unidade hospitalar, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto.