O professor Francicarlos Veras Cardoso, do Colégio Universitário (Colun), ligado à Universidade Federal do Maranhão (UFMA), abordava adolescentes de 14 e 17 anos com elogios e propostas românticas.


Nas mensagens enviadas para as estudantes, havia frases como: “Afinal, sou solteiro. E você tem 17 anos”; “Eu quero muito ficar com você desde o primeiro dia que te olhei”; “Tu é muito linda e eu faço muito esforço para disfarçar”; e “Sei que o que estou sentindo por você é diferente. É especial”.
As mensagens – no caso, as imagens das telas dos celulares das jovens – serviram como prova no processo administrativo disciplinar (PAD) instaurado pela universidade. A denúncia contra o professor foi formalizada em 2017, após mobilização de pais e estudantes. Em 2019, a comissão recomendou a demissão.
Depoimentos
Nos depoimentos, uma das adolescentes descreveu que ficar perto do professor “dava certo pavor”. Os episódios de assédio não estavam restritos às mensagens enviadas, mas também ocorriam na sala de aula, na sala dos professores e durante a aplicação de provas.
“A gente percebe, quando vai entregar prova, que ele olha para nossas partes, e isso nos faz sentir mal. Sentimos medo de ficar só com ele na sala, de ser a última a entregar a prova”, contou uma estudante.
Outra aluna disse que se sentia péssima em sala de aula e tinha vergonha do próprio corpo, como se a culpa pelos olhares insistentes do professor fosse dela. “Eu achava que era culpada de tudo o que estava acontecendo. Tentei me afastar, mudando para o fundo da sala, para evitar os olhares dele e outras situações. Tinha medo e me sentia um lixo, um objeto que alguém desejava usar.”
Uma adolescente contou aos integrantes da comissão que, no fim de 2015, foi conversar com Francicarlos sobre recuperação, na sala dos professores, e ele começou a passar a mão nas pernas dela, insinuando que a ajudaria a passar.
Outro lado
Procurado pela reportagem, Francicarlos Cardoso afirmou que não se manifestaria sobre o assunto. Em nota, a UFMA destacou que criou, em 2024, a Diretoria de Diversidade, Inclusão e Ações Afirmativas (Didaaf). Um dos objetivos do órgão é desenvolver uma política de combate ao assédio na instituição.
Nesta terça-feira (24/6), o Metrópoles publica a reportagem O assédio sexual nos câmpus em 128 atos. A investigação jornalística analisou processos administrativos disciplinares sobre assédio sexual e conduta de conotação sexual apurados em universidades e institutos federais de ensino.