A Igreja Universal do Reino de Deus foi denunciada por ex-membros sul-africanos à Comissão de Direitos da CRL Rights Commission (Comissão de Promoção e Proteção dos Direitos das Comunidades Religiosas e Linguísticas Culturais). As acusações vão de esterilizações, abortos forçados, exploração financeira e até negação de visitas familiares durante o luto.
A Universal possiu pelo menos 1 milhão de membros desde que se estabeleceu na África do Sul no início dos anos 1990. O ex-pastor Amos Ngququ, de 51 anos, disse em depoimento ter sido recrutado pela igreja em 1994, pouco depois das primeiras eleições democráticas do país. Ele afirmou, conforme matéria do SABCNews, que trabalhava como tradutor, nunca tinha folga e perdeu tanto peso que chegou a pensar estar doente durante o período em que trabalhou na instituição.
Templo Salmoão, sede da Igreja Universal em São Paulo
Vasectomia forçada e casamentos arranjados
Ngququ conta que foi transferido de uma filial de Port Elizabeth para a sede em Joanesburgo um ano depois. “Foi aqui que ouvi pela primeira vez o termo vasectomia. Disseram-me que isso é o que faziam como controle de natalidade para pastores. Nós apenas obedecemos e os servos não têm direito. Eu dependia inteiramente deles. Estou 100% na palma de suas mãos”, acusou, dizendo que toda a saga afetou seu casamento. O ex-pastor revelou que não tinha tomado uma decisão sobre a vasctomia, pois, segundo ele, a esposa queria ter um segundo filho. Mas, segundo relatou no depoimento, a Igreja Universal do Reino de Deus tomou a decisão por ele. Sua vida mudou durante uma viagem para Pretória, em 1995. “Eles me deram uma bebida e de repente estou na cama. Você acorda com dor. Então, eles dizem que é um procedimento permanente que você não deve ter um filho. Minha vida termina dessa forma”, disse. – O papel do Brasil na revolta contra a Igreja Universal que gerou mortes e crise diplomática na África
Ngququ contou que foi informado sobre a mudança para um país distante, onde não haveria necessidade de cuidar de crianças. “Foi quando percebi que me vendi aqui”, diz o ex-pastor, que adotou uma criança e e deixou a igreja depois de uma década. Já o colega de Ngququ, Bongani Manyisa, que se juntou à Universal em 2002, falou à comissão sobre casamentos arranjados. Manyisa afirma que foi foi circuncidado logo após do casamento forçado e era privado de momentos importantes ao lado da sua família, como funerais – ele ficou 10 anos sem comparecer a um enterro com familiares. – Gaúcha batalha para recuperar bens doados a Igreja Universal em processo por ‘lavagem cerebral’
Outros abusos, como alegações de racismo, exploração financeira e negação da educação também foram detalhados por mais de 200 ex-membros da Igreja Universal, que será processada, segundo o presidente da Comissão de Direitos do CRL, o professor David Masoma. Assim como os homens circuncidados, consta nos depoimentos, mulheres dizem ter sido forçadas a abortar. Elas serão convidadas a depor, além dos médicos envolvidos nos procedimentos. Com mais supostas vítimas esperadas em breve, a Igreja Universal também terá a chance de se manifestar.
Acusações similares em Angola
A enxurrada de denúncias de abusos contra o império de Edir Macedo não é exclusividade da África do Sul. Em Angola, como mostrou o Hypeness, pastores dizem que foram forçados a realizar a cirurgia de vasectomia. A igreja também é alvo de acusações de racismo.
egundo informações da BBC e da VEJA, a organização religiosa de Edir Macedo está sofrendo para dominar seus templos no país africano. Mais de 40% dos pastores angolanos racharam da organização da IURD Angola e tomaram os templos de líderes brasileiros. A Jusitça angolana chegou a decretar o fechamento de quatro templos da Igreja Universal no país africano.
A Jusitça angolana chegou a decretar o fechamento de quatro templos da Igreja Universal no país
Em comunicado à imprensa, o Pastor Nilton Ribeiro, porta-voz da comissão de pastores dissidentes de Macedo, afirma que está instaurada uma ruptura total com a IURD. “Temos observado que as suas práticas não mudaram, continuam sendo as mesmas. A prática do racismo, a prática da evasão de divisas, a prática da corrupção ativa e passiva, e por esta razão, nós, angolanos, viemos declarar, ruptura com a gestão brasileira. De hoje em diante, nós não teremos não teremos mais nenhum convênio com a gestão brasileira. Nós não aceitamos os crimes cometidos pela gestão brasileira”, afirma.
A Irgeja Universal afirmou que as acusações de racismo e de vasectomia forçada em Angola se tratavam de fake news “facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos”. A Instituição diz incentivar o planejamento familiar, mas reconhece a invasão dos templos.
Fonte: Hypeness