O aumento do número de casos de Covid-19 na China, após o alívio da rígida política da Covid Zero adotada pelo governo nos últimos dois anos, acendeu um alerta na comunidade internacional. Autoridades temem que a alta circulação do coronavírus na Ásia leve a um novo surto global.Embora exista um risco real do surgimento de novas variantes do vírus, especialistas ouvidos pelo Metrópoles não acreditam que elas possam nos levar a um cenário semelhante ao vivido no início da pandemia. Hoje, temos vacinas, terapias disponíveis e conhecimento sobre a doença.“Mesmo com esse grande número de infecções na China, não acredito que haverá um aumento generalizado de mortes no mundo ou que vamos voltar à estaca zero”, avalia o professor do Instituto de Biologia da UnB, especialista em mutações de vírus, Bergmann Ribeiro.O pesquisador Leonardo Bastos, do InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), concorda. “Após três anos de pandemia, estamos muito melhor preparados. Portanto, para início a gente não volta, mas temos que seguir acompanhando com cautela a evolução da Covid-19 não apenas na China, mas em todo o mundo”, afirma.Bastos destaca como indicadores positivos o avanço nas taxas de cobertura vacinal e a grande quantidade de pessoas previamente infectadas, o que reduz as chances de evolução para quadros mais graves em caso de infecção ou reinfecção.Monitoramento
Os dados mais recentes disponíveis no site Gisaid – banco online de sequenciamentos genéticos que reúne informações do mundo inteiro – mostram que a nova onda de Covid-19 na China é impulsionada por sublinhagens da variante Ômicron, com maior prevalência de casos associados às subvariantes BF.7, na região de Beijing e Fujian, e BA.5.2 em múltiplas cidades chinesas.Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades chinesas se reuniram na sexta-feira (30/12) para discutir a atual situação da pandemia e o aumento de casos no país.A OMS voltou a pedir o compartilhamento regular de dados específicos e em tempo real sobre a situação epidemiológica. As informações incluem mais dados de sequenciamento genético de amostras de testes e sobre o impacto da doença, o que envolve número de hospitalizações, internações e mortes em unidades de terapia intensiva (UTI).A entidade enfatizou a importância do monitoramento e da publicação de dados para ajudar o país e a comunidade global a formular avaliações de risco precisas e organizar respostas eficazes.“Para fazer uma avaliação de risco abrangente sobre a situação da Covid-19 na China, a OMS precisa de informações mais detalhadas”, afirmou o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pelo Twitter, na quinta-feira (29/12).Restrições nas fronteiras
Com o aumento de casos de Covid-19 na China, os Estados Unidos, o Reino Unido e a Itália anunciaram a exigência da apresentação de teste negativo para viajantes que vieram do país asiático a partir deste mês. Nos EUA, por exemplo, o comprovante será cobrado de todos os passageiros com 2 anos de idade ou mais.O pesquisador da Fiocruz condena a medida. Em sua avaliação, ela não garante a contenção do vírus e contribui para um comportamento xenofóbico da população. Bastos lembra que a estratégia se mostrou ineficiente em ondas passadas, quando o coronavírus surgiu em Wuhan, na China, ou quando as variantes Gama, Delta e Ômicron foram identificadas, respectivamente, no Brasil, Índia e África do Sul.“Políticas de contenção a viajantes apenas dos locais onde o vírus ou as variantes foram identificados não evitou a dispersão deles para todo o planeta. Ou seja, essa política de restrição a viajantes da China é preconceituosa e só fomenta a xenofobia. Se quiser adotar um sistema que exija teste negativo para os viajantes, que seja para todos, e não apenas para aqueles que vêm do país A ou B”, considera Bastos.O especialista avalia que os países deveriam investir na vigilância epidemiologia e genômica. Segundo ele, é imprescindível reforçar a capacidade analítica de monitoramento de casos, hospitalizações e óbitos para compreender a dinâmica de um surto em andamento e agir rapidamente para reduzir danos.“O enfrentamento de outras doenças infecciosas também pode se beneficiar disso. Ou seja, uma vez que seja identificado o início de uma epidemia, será possível adotar rapidamente medidas efetivas de enfrentamento como no caso da Covid-19”, pondera Bastos.Além disso, a população deve se atentar ao uso de boas máscaras em locais fechados, aumentar a testagem e cumprir o isolamento. Os governos devem preparar o sistema de saúde para receber os casos graves, além de avaliar o cenário com cautela, avaliando a possibilidade de cancelar aulas ou eventos caso o cenário exija tais medidas.Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.Já leu todas as notas e reportagens de Saúde hoje? Clique aqui.Fonte: Metrópoles