O estelionatário que se passou pelo governador Ibaneis Rocha (MBD) para conseguir R$ 3,7 mil da ex-esposa do chefe do Executivo distrital, Luzineide Carvalho, disse que precisava de ajuda para pagar uma passagem. Na troca de mensagens, foi alegado um problema no aplicativo do banco.
A conversa foi rápida. O golpista mandou mensagem às 9h10 dessa segunda-feira (4/1) dizendo que aquele número novo era de Ibaneis. Pouco mais de 10 minutos depois fez uma ligação para chamar a atenção de Luzineide. “Ta podendo falar?”, pergunta.
Após a ex-mulher do governador dizer que sim, o homem alega que teve problemas na hora de realizar um pagamento pelo aplicativo e pede para que ela o ajude. Sem desconfiar, Luzineide diz que poderia realizar a transferência.
Confira o início da conversa:
“Recebi a mensagem dele dizendo que tinha mudado de telefone e, depois, pediu o dinheiro. Não desconfiei de nada”, disse Luzineide ao Metrópoles. Ela afirmou ter considerado o pedido normal. “Ainda enviei o comprovante. Olha só como fui boazinha”, brincou.
Só quando a mulher recebeu pela segunda vez uma mensagem do mesmo número pedindo mais dinheiro que imaginou tratar-se de uma farsa. “Eu vi um erro de português e uns emojis que ele não usa. Foi aí que eu percebi e liguei pro Ibaneis”, detalhou.
Ao conversar com o governador pelo telefone, Luzineide descobriu que tinha caído em um golpe. “Ele disse que não tinha mudado o número. Aí eu disse então para que ele avisasse os contatos, porque o golpista poderia estar fazendo mais vítimas”, revelou.
Luzineide até chegou a acionar o banco para ver se conseguia o valor de volta, mas foi informada que não seria possível. “Já tinham sacado tudo, uma pena”, lamentou.
Facção criminosa
Um dos envolvidos na tentativa de fraude é integrante de uma facção criminosa. A informação foi repassada em coletiva de imprensa realizada na tarde dessa terça-feira (5/1), pelo delegado da Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani. “Já foi condenado e pegou muitos anos de cadeia”, explicou o integrante da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
O delegado não revelou o nome da facção, mas adiantou que o acusado tem vasta ficha criminal. “Homicídio, tráfico… Somando tudo, dá quase 40 anos”, disse Zualiani.
Apesar de terem sido disparadas várias mensagens, o delegado conta que apenas uma pessoa – Luzineide – caiu no golpe ao achar que, de fato, falava com Ibaneis. “Foi feita uma transferência de R$ 3,7 mil. Ao todo, esse homem de Goiânia tinha conseguido, em outros casos parecidos, cerca de R$ 7 mil no dia”, completou o policial.
Nessa segunda-feira (4/1), a PCDF prendeu um dos homens responsáveis pelo golpe, mas outros dois ainda estão foragidos. “Já sabemos onde um mora, fomos até a casa dele ontem, mas não estava”, afirmou.
Os três bandidos podem responder pelos crimes de organização criminosa e estelionato. “O que já foi preso tem um papel superior, principalmente de pesquisa. Já os outros dois eram recrutadores e criadores de conta.”
Prisão em Goiânia
Preso em flagrante pela DRCC, que investiga o caso, o estelionatário é vigilante de escolta armada e foi detido dentro de uma empresa de segurança em Goiânia (GO).
Os investigadores apreenderam cartões com dados de vítimas. O segundo suspeito não foi localizado e o terceiro tem várias passagens pela polícia. Segundo o delegado-geral da PCDF, Robson Cândido, a ação rápida da DRCC viabilizou a prisão em flagrante.
“As equipes conseguiram localizar o principal suspeito. Os outros dois já foram identificados e deverão ser presos em seguida. A resposta rápida da PCDF é fundamental para coibir esse tipo de crime”, afirmou.
De acordo com o delegado-chefe da DRCC, Giancarlos Zuliani, o preso permaneceria em Goiânia. “Fizemos o flagrante por estelionato na capital goiana. O preso passará por audiência de custódia no Tribunal de Justiça da cidade e não virá para o DF”, explicou. Contudo, na tarde dessa terça-feira, a Justiça de Goiás concedeu liberdade provisória ao vigilante.
Segundo revelado pelo Metrópoles, os criminosos pegaram uma foto do governador na internet, usaram um número de telefone com prefixo 061, do Distrito Federal, e tiveram acesso aos contatos pessoais do chefe do Executivo local.
Com os números em mãos, passaram a enviar mensagens fingindo ser Ibaneis Rocha e pedindo para que fossem efetuados depósitos em uma conta bancária. Familiares do governador chegaram a receber o pedido.
Perguntado sobre o caso na tarde de segunda-feira, o governador demonstrou irritação: “É cada bandido…”, indignou-se. No início da tarde, o chefe do Executivo local disparou mensagens aos contatos mais próximos e para os integrantes do Palácio do Buriti, com o intuito de alertar sobre o crime.
“Boa tarde. Um perfil falso foi criado com o meu nome. Estão remetendo mensagens e fazendo pedidos falsos. Recebendo-os, favor desconsiderar”, escreveu. No mesmo texto, o governador encaminha o print da tela com o número usado pelo estelionatário.
Outros casos
Durante o ano de 2020, muitos parlamentares foram vítimas de golpes semelhantes ao aplicado contra o governador do Distrito Federal. Entre eles, os deputados federais Israel Batista (Partido Verde), Carla Zambelli (PSL-SP), Luisa Canziani (PTB-PR) e Filipe Barros (PSL-PR).
Esse tipo de crime segue crescendo na capital federal. Em média, foram três ocorrências registradas por dia, no ano passado.
Fonte: Metrópoles